11. De onde eu vim, e para onde eu vou.

 

Essa é para ser lida ao som de "Por onde Andei", de Nando Reis:


O encontro de hoje tratou sobre a Análise de Conteúdo, o que me faz logo pensar na Bardin, literatura clássica sobre o tema e também a primeira que li sobre o assunto, muitíssimos anos atrás. 

Sim, minha primeira monografia, meu primeiro artiguinho tinha lá seu pezinho lá no quantitativo, fiquei eu a contar muitas palavras, organizando frequencias, a categorizar. Aliás, sinto saudades e quero reler esses trabalhos, ver como eu pensava à epoca, como me organizava, me redescobrir. Acho que será um exercício bacana para delinear futuros. 

Neste primeiro trabalho que menciono, analisei escritos de portas de banheiros. Foi lindo! Saí a visitar tudo quanto era privado desta Universidade a fotografar suas portas. (Falarei deste momento em outra postagem, em breve, quando tratarei de métodos visuais).  Num momento posterior, examinei cada uma das fotografias, analisando... seus conteúdos....

A partir daí, segundo a cartilha da Bardin, fui criando categorias de conteúdo, baseadas na frequencia com que certas temáticas apareciam naqueles escritos. A partir daqueles resultados, pude estabelecer o que as pessoas mais escreviam naquelas portas e, com base na literatura sobre o tema e nas minhas percepções de jovem pesquisadora, e sempre com o apoio do meu então orientador, fui elaborando explicações e, por fim, extrapolei daquelas portas para o restante da organização, tecendo teorias. 

Não foi a unica vez que me utilizei da análise de conteúdo, pelo contrário, percebo aqui nesse relato que ela tem me acompanhado ao longo da minha trajetoria academica e só agora no doutorado pretendo alçar vôos diferentes.

De fato, a análise de conteúdo me parece uma abordagem um pouco mais simples para ser utilizada pelo pesquisador iniciante e, também, ao mesmo tempo, muito poderosa para possibilitar organizar determinados achados. 

Basicamente, é uma questão de observar um fenomeno com certo grau de complexidade e, a partir de muita reflexão e mergulho na teoria, enxergar neles certos "padrões", que seriam as categorias. 

Categorizados os conteúdos emergentes do campo, cabe ao pesquisador tentar entender o que aquilo significa para a realidade observada.

Quase sempre o critério para essa categorização é de ordem quantitativa, mesmo quando não envolve propriamente uma contagem e sim a verificação de uma frequência. Assim, muitas vezes o pesquisador se vê na tarefa de levantar a temática mais evocada em suas entrevistas, por exemplo. 

E é aí que, ao meu ver, reside a grande limitação do método, pois ao oferecer visibilidade demais ao que é mais frequente, pode-se cair do erro de se deixar passar aspectos do campo não menos importantes, simplesmente por nao terem sido evocado com tanta frequência.

A tradição iniciada por Bardin bebe muito na ideia positivista de quantificação, de atribuir a qualidade de melhor ao que é maior, o que verificamos, especialmente ao lidar com a realidade de modo qualitativo, que não necessariamente é verdadeiro.

Pode muito bem surgir uma informação que é dita uma única vez durante toda a pesquisa, e está ser a mais importante da tese inteira.

Assim, refletindo sobre a minha tese, e sempre aqui no blog aproveitando a oportunidade para pensar na cartografia, uma vez que ela, infelizmente, não será assunto deste curso, penso que é um método mais robusto nesse sentido, ao dar conta de uma variedade maior de fontes de informação - mesmo as que podem vir à conta-gotas.

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