Figura 1 - Uma cientista social em campo
Fonte: CanvaAo ler o texto de Geertz fiquei logo encantada, pois ele evocou em mim logo o que vinha a minha mente quando pensava no trabalho do cientista social: aquele que vai até uma cultura - que para ele é nova - e, após observação carregada de um certo estranhamento, tece sua interpretação do mundo, outrora desconhecido para seus pares.
Esta, como mencionei, era a minha visão do fazer científico das ciências sociais, estereotipada, antes de ter contato com o ofício de fato. Quando estive em campo percebi que, como conta Geertz, há o olhar do pesquisador com curiosidade sobre o observador, mas há também a recíproca: o observado, dando-se a conhecer também quer saber do pesquisador, o que pode ser desconcertante para ambos, e fonte de um primeiro estranhamento.
Outra reflexão que fiz foi que há que se tomar muito cuidado ao tentar teorizar sobe a realidade do outro, creo que não é tarefa trivial passar um tempo em uma cultura diversa da sua e sair de la explicando e sistematizando como se nativo fosse. Isso não quer dizer que nós, pesquisadores, não podemos estudar realidades exteriores à nossa, por não sermos capazes de compreendê-la: não se trata disso.
Creio que é possível que continuemos estudando o que é diferente de nós mas sugiro que se acrescente uma pitada de humildade e reconhecimento de que o sujeito de pesquisa é de fato participante e não mero “objeto de pesquisa” e, por isto, deve ser consultado e ouvido a respeito das conclusões a que o pesquisador pensa que chegou com seus estudos, sendo sujeito ativo dessa pesquisa também.
Isto, dentro da abordagem interpretativista na qual se insere Geertz, é algo trivial. Ele mesmo solicitava aos nativos das comunidades que estudou que validassem suas impressões. Ou seja, ele reconhecia as limitações das suas interpretações e entendia que suas conclusões podiam estar contaminadas pela sua própria visão anterior de mundo. Mais do que isto, ele entendia que seus sujeitos de pesquisa não eram meros informantes e sim indivíduos que poderiam contribuir de forma ativa para a pesquisa.
O interpretativismo é uma abordagem antropologica e sociológica que dá ênfase a interpretação das práticas culturais especiais a partir do olhar dos indivíduos. Aqui o interesse não e elaborar teorias universais ou fazer generalizações. O objetivo do pesquisador, nesta abordagem, segue outro caminho:o de entender uma determinada realidade pelo ponto de vista daqueles que o vivenciam.
Essa abordagem visa entender os significados culturais de um determinado acontecimento, que poterpretação iplos e variar de povo para povo. Como salientado em sala de aula, palavra aqui é interpretação e não explicação. Ao tentar explicar algo, lanca-se mão da razão - e aqui não estamos tratando disto, o que importa é o subjetivo, cabe a interpretação do grupo.
Indo adiante neste raciocínio, se é no social que está a referência do modo como o mundo deve ser interpretado, a consequência disto é que o mundo está dado, ou seja, é: e nisto depreendemos que o interpretativismo é uma abordagem essencialista, que acredita que as coisas são como são, imutáveis.
Aí está a minha divergência quanto a está abordagem, pois penso nas coisas como fluxo, em continua modificação e transformação.
Voltando um pouco na nossa discussão, se o interpretativismo pensa na interpretação, o construcionismo é um verdadeiro primado da razão. Se para o primeiro o mote é “penso é interpreto”, para o segundo seria “penso e construo”.
Dessa maneira, essa abordagem se propõe a construir modelos nos quais se tenta encaixar a realidade. Talvez um dos casos em que isto fique mais claro seja na tipificação de um modelo de desenvolvimento cognitivo humano proposto por Piaget, que estabelece que, a cada marco de idade, o indivíduo deve ser capaz de realizar tais e tais tarefas. Caso contrário, deve-se mobilizar toda uma gama de recursos médicos e pedagogicos para corrigir o que essa abordagem considera como uma falha. Isto segue uma lógica capitalista de reprodução de uma suporta normalidade, que fere as diferenças individuais.
Temos duas abordagens principais dentro do construcionismo: o cognitivo de Piaget e o social de Vygotsky. Para o primeiro, supera-se a ideia de um sujeito passivo na construção do conhecimento. Baseando-se no pensamento Kantiano, pensa-se num sujeito ativo no seu aprendizado. Piaget desloca a discussão de um sujeito passivo para outro que aprende e constrói, mediante sua relação com o ambiente.
Já Vygotsky, ao pensar na linguagem como o veículo para a aprendizagem, entendendo aí a linguagem de forma mais ampla do que apenas o idioma, pensando em signos.
Além disto, indo além de Piaget, que tinha uma visão muito individualista do processo de aprendizagem, Vygotsky pensava no aprendizado de forma sociocultural - com o conhecimento sendo produzido de forma social.
Comecei esse texto referindo a respeito de como as leituras da semana, mais a discussão em sala de aula com os colegas (a lá Vygotsky?) me fizeram pensar no meu papel de pesquisadora, especialmente confirmando entendimento que eu já trazia, se não manipular a realidade com luvas, ou seja, de nunca adotar postura asséptica na minha pesquisa.
Agora, em relação a minha tese, logo notei que o construtivismo não se encaixava nela, pois não pretendo conduzi-la de modo prescritivo, criando modelos para tentar encaixar neles a realidade. No entanto, quando li sobre o interpretativismo, cheguei a ficar tentada, mesmo já tendo total consciência de que minha pesquisa é pos-estruturalista, pois a ideia de entender a realidade tendo em vista seu contexto me pareceu muito próxima e amiga.
Contudo, ao notar o caráter essencialista da abordagem, vi que não são naquelas águas que estão as minhas aventuras acadêmicas, uma vez que não concebo a realidade como estática ou imutável. Creio no fluxo, na transformação, no processo. Logo, a ideia de essencia é incompatível e não iria me ajudar.
No entanto, creio que se salva de toda essa discussão noções importantes, especialmente aquelas que já discuti no início deste texto, a respeito da postura do pesquisador com o campo, que deve ser sempre de respeito e de humildade.
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