6 Do estudo de caso a um pouco da minha própria trajetória


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No último encontro, tratamos da pesquisa-ação e do estudo de caso. 
Durante o debate dos conceitos, e também depois da aula, e até agora, minha alma esteve inundada de reflexões que eu acho muito caras dividir contigo, meu caro leitor, de modo que em privilégio delas, vou deixar as discussões de ordem introdutória ao assunto como plano de fundo.  

Minha entrada para a pesquisa foi justamente pelo interesse pela pesquisa qualitativa e suas possibilidades, conforme já tive oportunidade de discutir em outro post. Assim, estar nesta disciplina é sempre uma espécie de túnel do tempo, que ao mesmo tempo me evoca lembranças do passado, mas que também me prepara e lança bases para o meu futuro enquanto pesquisadora.

Hoje tratamos de estudo de caso e muito acertadamente houve a ponderação do professor de que era adequado comecar as ponderações dos métodos por ele, uma vez que reúne de forma tão íntima características que são comuns à própria pesquisa qualitativa, como a questão de lidar com singularidades. 

Logo lembrei das minhas próprias experiências com o estudo de caso, pois eu também comecei por aí, ainda na graduação. Ri sozinha ao relembrar que, afoita por aprender mais sobre o assunto, sem pedir ajuda na época ao orientador, comprei logo o livro do Yin sobre o assunto. Tadinha...

Eu sempre trabalhei com o estudo de caso numa perspectiva interpretativista ou construtivista e achei, na minha inocência, que essa era a única possibilidade. Mal sabia eu que para além dessas, o estudo de caso também pode ser pensado numa perspectiva positivista, que é justamente a adotada pelo autor do livro que eu comprei (risos). Creio que, em tudo isso, o aprendizado que ficou é que até nos nossos erros é possível enxergar possibilidades de crescimento.

Naquela época se ensaiava na minha cabeça, quando eu estava ainda na graduação e tinha pouca maturidade teórica para entender isso, a questão das ontologias e epistemologias, que sustentam os métodos. Que os métodos não existem no vácuo numa pesquisa e sim no bojo de uma série de escolhas que devem guardar coerência entre si. Felizmente, apesar das minhas compras desastradas, nunca cometi tal tipo de miscelânea ontológica-epistemológica-metodológica. Viva o orientador!

Outra questão discutida nos textos e na aula e que me tocou muito foi a maldita questão da legitimidade/validade do estudo de caso e, como ja mencionamos acima é algo que acaba por se discutir para toda a pesquisa qualitativa. Numa turma heterogênea, com representantes das mais diversas tradições, isso fica mais patente pois, de certa maneira se reproduz ali o imaginário da academia da área de Administração, de uma maneira geral. 

Perde-se muito tempo em se debater que o estudo de caso não pode ser generalizavel, e que o resultado da pesquisa é apenas uma versão da realidade apresentada pelo pesquisador. Sério, eu acho que uma joaninha morre a cada vez que se entra nesse tipo de seara. Eu, muitas das vezes opto por ficar calada, porque já falei demais sobre isto na minha vida, e as vezes me dá uma canseira de recomeçar.

Mas, vamos lá - apesar de saber que, a quem interessa saber isto, não lê isto daqui. OBVIO que não se generaliza estudo de caso, quem foi que disse que o objetivo em algum momento foi esse??? E segundo, toda e qualquer pesquisa já feita na história da humanidade representa uma visão de mundo do pesquisador. Aceita que dói menos. 

Eu, que muitas vezes optei por objetos de pesquisas que suscitaram certas descrenças pelos tradicionais, já ouvi tanto críticas deste quilate, que é por isto que digo que cansei, sabe? Quem quiser que leia meus trabalhos, lá eu discuto tudo, tintim, por tintim, pessoalmente eu quero só sorrir e dar tchauzinho de miss. 

Mas, querer não é poder, né? Outro assunto da aula foi a pesquisa-ação. O Léo, numa fala muito feliz, estabeleceu paralelos entre a pesquisa-ação, que pode ser pensada como afeita à teoria crítica e a questão emancipatória que ela envolve e a cartografia, que, de maneira diferente, se insere numa tradição pós-estruturalista. 

Eu gostei muto deste comentário dele, e me fez pensar muito porque, como não é segredo entre nós, eu começo esse doutorado com a pretensão de conduzir ao longo dele uma cartografia. No entanto, como análitica muito complexa, muitas vezes ela me parece, em termos práticos, muito abstrata. Neste sentido, a observação do Leo, ao estabelecer relações com a pesquisa-ação que, apesar de eu nunca ter realizado, é algo mais palpável, foi muito bacana para me permitir estabelecer outros raciocínios a respeito. 

Acredito que o que enriquece a disciplina, alem da literatura sugerida, é a troca com todos - docentes e colegas, que não só nos ajuda a esclarecer certos pontos como também tem o condão de nos fazer pensar. 






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