8 - Etnografia e observação participante: reflexões sobre o meu passado e futuro

A literatura sugerida para o presente encontro se debruçou sobre a etnografia e a observação partocipante. O que é um, o que é outro, as diferenças, as semelhanças e aproximações. 

De modo geral, a etnografia seria uma iniciativa mais robusta e que pode lançar mão de diversas técnicas para compreender uma determinada realidade, ao passo que a observação participante é uma técnica - que pode estar associada à etnografia ou não. 

A partir das minhas prática, eu posso compreender um pouco da confusão entre os dois conceitos - eu mesma os entendia de modo equivocado até recentemente. Eu pensava que a observação participante seria uma espécie de etnografia conduzida por um período mais curto, ao passo que a etnografia seria um esforço mais alongado no tempo. 

Acho que a confusão vem por que das duas maneiras o pesquisador se insere do campo de uma maneira muito íntima e intensa, e isso acabou por me confundir enquanto pesquisadora incipiente. 

Acho que um dos grandes momentos dessa disciplina - não retirando de forma alguma o protagonismo do diálogo em sala de aula - é o de estar aqui redigindo esse blog e refletindo sobre o que foi lido, debatido e vivido em campo nas experiências pregressas, ao mesmo tempo em que paramos para pensar no futuro - a tese.

Lancei mão da observação participante em minha pesquisa realizada durante o mestrado, que, em linhas gerais buscava entender as modificações que a prática do grafite vinha apresentando durante a sua transformação em produto e negócio. Havia também um recorte de gênero no trabalho e, para executa-lo eu tive o prazer de conviver de forma muito próxima com um grupo de grafiteiras durante certo tempo. 

Durante esse período de campo, fiz tudo em conjunto com elas: participei de aulas para aprender a grafitar, carreguei muitas latas de tinta nas costas, além de escadas e incontáveis materiais de pintura, pintei, comi com elas, bebi, fumei umas plantinhas bonitinhas, passei dias debaixo do sol quente nos muros, enfim, foi algo muito intenso. 

Porém, de fato, ao refletir aqui sobre tudo, percebo que, apesar de ter meu diário de campo sempre a tiracolo, a experiência que tive não se constitui na complexidade de um método - o que para mim, não passa de questão puramente de nomenclatura, sem indicativo algum para demérito do que vi e vivi. Dizer que a observação participante é uma técnica não quer dizer que ela seja ruim e sim que ela é apenas isto. Não tem a complexidade metodologica da etnografia, que foi o seu par conjugado nesta disciplina. 

Na minha tese, não há previsão para se lançar mão nem da etnografia e nem da observação participante - como já mencionado em tantas outras ocasiões, a ideia é trabalhar com a cartografia, que trata-se de conceito diferente em termos epistemológicos e metodológicos. 

Em termos gerais, eu percebo que tanto na etnografia quanto na observação participante, não há previsão de envolvimento do pesquisador em tal nível que é pré-requisito na cartografia. Ou seja, o pesquisador, nas duas primeiras, me parece manter uma fria distância de tudo, ao passo que a proposta de Deleuze e Guattari pressupõe os afetos do pesquisador. 

No entanto, eu não posso deixar de pensar, tendo em vista a minha experiência, que ter feito uma observação participante no passado pode ser útil para realizar uma cartografia no futuro, no sentido de que a prática já me forneceu certo traquejo para saber como é a experiência de fazer uma pesquisa que envolve intimidade - ressalvando aqui na minha observação todas as diferenças epistemológicas, teóricas e metodológicas existentes entre essas vivências. 

Assim, fico feliz em perceber em mim mesma certo amadurecimento enquanto pesquisadora, o que me parece apontar que, apesar do curso de doutorado estar apenas no começo, talvez eu esteja indo no caminho certo. 

Comentários