Uai, hoje a música a nos embalar não podia ser outra, né? Vamos de Chico, Cotidiano
Hoje o seminário foi conduzido por um grupo de alunos dentre os quais eu me encontrava. Se aqui é um espaço de reflexão sobre a trajetória academica, eu preciso registrar que hoje foi um dia muito feliz para mim.
Uma das coisas que eu venho trabalhando neste doutorado são as minhas habilidades para a docência e, nesse sentido, apesar de não ser o foco da disciplina, acredito que a oportunidade de organizar e apresentar um seminário contribui para o desenvolvimento de aspectos importantes para a minha atuação em sala de aula.
Nesse sentido, uma das coisas que tenho trabalhado com mais atenção é a minha habilidade de expressão oral, ponto onde sinto que apresento maior fragilidade, por uma série de motivos que ultrapassam a discussão neste blog.
Assim, a minha felicidade após a apresentação de hoje se justifica por eu considerar que a vivência de hoje foi um pouco mais facil, o que me aponta para algum grau de crescimento em relação a esta capacidade.
Isto posto, passado a nossa apresentação que foi uma verdadeira jóia (risos), gostaria de retomar aqui nesse espaço alguns pontos que discutimos mais cedo, mas agora para pensarmos nas possibilidades deles para a construção da minha tese.
O tema do encontro de hoje foi métodos de pesquisa com o cotidiano. Uma das primeiras coisas que chamou minha atenção neste tópico é que, diferentemente dos outros assuntos elencados nessa fase da disciplina, em que já adentramos aos métodos propriamente ditos, que oas pesquisas com o cotidiano não são exatamente isto.
Para mim, faz mais sentido pensar aqui nesse tópico como sendo relativo a uma episteme, ao contrário, por exemplo, dos métodos visuais, que se referem nitidamente a um caminho de condução da pesquisa. No entanto, nesse meu raciocínio, não excluo também a construção da noção do cotidiano também como forma de acessar algumas informações, como comentarei adiante. Só gosto de pensar nesse momento, que a complexidade aqui envolvida é um pouco maior, o que me leva a concluir que estamos tratando de uma possibilidade de pesquisa muito robusta.
O cotidiano pode ser meio de acessar saberes produzidos por atores que geralmente são excluídos das construções todas como oficiais. No nosso caso, a administração tradicional diz respeito a conhecimentos produzidos muitas das vezes nos Estados Unidos e este conhecimento é reproduzido nas escolas de negócios e aplicado nas organizações sem a reflexão de que o contexto de produção daquela teoria não é o mesmo da sua aplicação, e que por isso mesmo aquela construção teórica não vai funcionar ali do mesmo jeito que se pensou quando aquele saber foi elaborado.
Nesse contexto, embasado pelas ideias de Certeau o cotidiano emerge como forma de acessar outras formas de fazer, primordialmente, engendradas por atores que não foram ouvidos na construção dos saberes hegemonicos.
É aí que vamos conhecer as práticas do homem comum, daquele que não apresenta motivos para se destacar, mas que integra uma dinâmica de poder que ocorre nas organizações.
Nesse contexto podemos observar que nem sempre aquilo que é colocado pela alta gestão é aquilo que efetivamente ocorre, uma vez que existe toda uma trama de resistências, táticas e astúcias que interferem na dinâmica organizacional.
Por isso que o cotidiano fornece para a administração um modo de acessar outros saberes, e o conhecimento deles também contribui para os saberes sobre a gestão, ainda que integrem uma outra teoria sobre o organizar, pois é calcada nessa discussao que é diferente das ontologias e epistemológicas consideradas para a construção dos conhecimentos hegemonicos.
Como consequência dessa construção teórica, que é mais detalhada do que eu estou apresentando aqui, mas que o faço desta maneira para privilegiar outros aspectos da questão, emerge o conceito de gestão ordinária, apresentado pelo Prof. Dr. Alexandre Carrieri em 2012, no bojo de sua tese de professor titular.
Essa gestão ordinária, a gestão exercida pelo homem comum descortina uma nova possibilidade de pensar certas organizações nas quais as teorias tradicionais da administração falham. São elas, apenas para citar algumas, os pequenos negócios, as microempresas, que tem uma lógica diferente de funcionamento, o que justifica a necessidade de pensa-las de outra maneira.
Temos que o prof Carrieri foi o meu orientador no mestrado e tambem agora no doutorado. Na minha dissertação, conforme já mencionado em outras oportunidades, trabalhei com o trabalho das grafiteiras e, a partir de uma construção teórica que envolveu a os trabalhos de Guattari sobre subjetividades capitalistas, o grafite se descortina como possibilidade de negócio, com características muito peculiares.
Na ocasião da minha defesa, uma das coisas que me questionaram foi por que o meu trabalho estava sendo defendido no bojo de um programa de pós graduação em administração e não em algum outro.
O avaliador que me questionou não percebeu no meu trabalho elementos de gestão que o classificassem inequivocamente neste programa. No entanto, havia no trabalho menção a gestao ordinária e na minha réplica também. No entanto, hoje reconheço que o conceito de gestão ordinária poderia ser sido apropriado e explorado na minha dissertação de maneira mais acentuada - e são nessas reflexões que temos a oportunidade de amadurecer enquanto pesquisadores.
Agora, olhando para o futuro, a tese, já percebo também que o cotidiano pode ser um caminho para a condição da minha pesquisa. Pensando no movimento feminista negro também como uma organização nao-convencional para a administração tradicional, pensar no cotidiano dele pode ser uma forma de entender seu funcionamento e dinâmica.
Neste sentido, pretendo me aprofundar mais nas leituras sobre o tema, cujo seminário de hoje representou um ponto de partida.
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